quarta-feira, 6 de novembro de 2019


Como é possível alguém alegrar-se com o mundo, a não ser quando se refugia nele?

Franz Kafka

segunda-feira, 1 de julho de 2019


 “Falando a respeito de tempo e espaço, os blog’s assim como qualquer outro conteúdo da
internet, têm uma característica especial, pois diferente dos livros
na tela do computador, o leitor tende a ver os conteúdos apenas da página principal, o que se
postou anteriormente perde consideravelmente seu significado e importância.
As pessoas procuram novidades e a velocidade com que as informações são divulgadas, com a
possibilidade de se navegar em inúmeras páginas em um curto espaço de tempo,
trazem esta sensação do imediatismo, do novo, tornando os conteúdos voláteis. Vemos muitas
vezes no blog do Pó&teias, conteúdos sendo postados novamente, ou seja,
o próprio autor tem a consciência de que sua obra já ficou no esquecimento, trazendo-a à
tona com esta nova postagem. “

Eliane


Os blogs não eram mais do que simples diários onde as pessoas engavetavam emoções neste
emaranhado virtual e etéreo da web,que por sua vez principiara para atender as demandas
acadêmicas e militares.
Em curto espaço de tempo esta nova mídia foi ensejando um novo tipo de meio-mensagem
,onde os domínios do subjetivo, íntimo, privado foram se espraiando para uma nova forma de
sub-literatura,fora dos cânones acadêmicos, mas ainda amadora .
Contudo hoje em dia convivem meros rascunhos , como quartos de dormir mal arrumados
diante de uma porta escancarada para um olho imenso que a tudo devassa enquanto cegos
enquanto se tropeça nas roupas , espalhadas pelo chão.
Com efeito podemos discorrer sobre a sociedade de fim de século, época de transição , de
grandes transformações marcada por uma diversidade de formas e camadas de
relacionamentos inusuais á poucas décadas, onde o ciber-espaço cumpre o papel de ponte
fantasma entre a inconstância,o delírio e a pseudo profundidade dos contatos que em certo
sentido aboliram a interação física;relações superficiais na contradição a abertura total a
desinibição,incluindo a intima e a erótica em níveis não do experienciado mas do imaginado.
Quanto ao blog em questão nos remeteremos a sociedade vídeo- adicta , onde o tempo é
variante adversa daquela empregada na leitura do livro,o lead e a informação direta, não
necessariamente objetiva predominam ,isso em parte já ocorria na literatura ,as shorts -stories
e as crônicas, os minicontos nos jornais; estórias ligeiras.Embora seja platitude ficarmos
nesse argumento.Não esqueçamos do fenômeno dos e-boocks.As questões que se apresentam
:1) os leitores dos e-books são os mesmos que cultivados pela leitura dos livros de celulose e
seus filhos herdeiros de tais acervos culturais, leem os dois meios ou não?2)Como ficaram as
editoras nesse processo ?

Penso que haverá uma multi- coexistência de maneiras de absorver literatura e cada geração
resgatará no espírito de sua época as cores , as paisagens de suas letras,como fora no passado
e assim é no presente.
No que se refere ao efêmero do postado,digerido ou não apenas mantém a força breve das
breves lembranças,profundidades não trazem a tona o que a juventude busca.Tempestade e
ímpeto.Um tiro de uma frase certeira , um conciso veneno ou elixir, bastam, não é a demanda
do santo Graal.revelações profundas ainda são o continente de um bom livro ou de um e-
book, talvez.
Com relação ao ocorrido com o referido blog, então denominado Pó&Teias sou de opinião,
que as repetições nas postagens, tem mais a ver com o caráter pré-profissional que induzem
seus colaboradores a erro por mero esquecimento do que fora postado, creio que se houvesse
algum mecanismo que lembra-se que tal ou qual texto já fora publicado, não haveria tal
fato.Uma questão de ordem técnica.
De outra ordem é a qualidade dos textos e a Leitura que deles se fazem pelos leitores
“virtuais’,o primeiro pode ser lapidado , filtrado, quanto aos leitores que ora também podem
vir a se tornarem colaboradores, colaboradores, está muito ligado a alguns fatores de proximidade seja de
comunidades de relacionamento virtual de perfil literário ou participes de grupos poéticos e de
escritores em sua maioria frequentadores dos mesmos espaços culturais urbanos boêmios ou
não, e sim os anônimos presos nas teias do ciberespaço.

Wilson Roberto Nogueira.2009

terça-feira, 31 de julho de 2018


Tua ilegibilidade se tornou dunas
nas minhas mãos: jogos de espelhos, narrativas encaixadas
e um engulho nas madrugadas turvas.
Viver é dócil e assombroso ao seu lado.
Todavia, me descubro menino e ancião cansado
quando falas e vibras tuas mãos no quarto amplo demais.
Mas quando te vi perdida
me reconheci sórdido como um vilão de Alexandre Dumas.
Não te peço nada, só o perdão
pelo sacrilégio de existir num mundo que nos desconhece.
O amor não é palavra que se soletra impunemente.
Penitencio-me por ousar descobrir todos os seus sinônimos
no meu velho dicionário de impropérios.
Amo-te como um crápula, como um cervo ferido
na Floresta Negra,
como um traficante da armas na Abissínia, como um anjo.
Amo-te e quero te possuir mais a alma que o corpo.
O corpo é doido e não raro nos desengana.
Viver é dócil e assombroso ao seu lado, eu já disse.
E é este assombro que me alimenta,
hoje, às três horas
da tarde de uma quinta-feira de um mundo sem sentido.

Otto Leopoldo Winck

Ser autêntico exige um alto preço


Ser autêntico exige um alto preço -- preço que pouquíssimos estão dispostos a pagar. Você pode ser linchado pela opinião pública (como Zola no caso Dreyfus), você pode ser vítima de atentado (como Sartre na Guerra da Argélia), você pode tomar cicuta (como Sócrates), você pode ser crucificado (como Jesus). Ou então você muitas vezes vai ser obrigado a andar sozinho, nadar contra a corrente, dar murro em ponta de faca... Nem todos estão dispostos, na hora do cafezinho, numa reunião familiar, numa festa de amigos, a serem vistos como estranhos, exóticos, excêntricos -- sobretudo quando não há glamour nessa excentricidade. Mas beleza, eu entendo, é mais seguro andar na mesma direção do rebanho. Só não se queixe se você for classificado naquela categoria que Fernando Pessoa chamou de "besta sadia", "cadáver adiado que procria"...

Otto Leopoldo Winck