sábado, 17 de setembro de 2016

Que lua, que flor
nada, bebo umas doses
aqui sozinho.
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月花もなくて酒のむ独りかな
tsuki hana mo / nakute sake nomu / hitori kana
(1689)
- Matsuo Bashô. dez hokku (haikai).. [tradução Gustavo Frade]. in: FRADE, Gustavo. Dez poemas de Matsuo Bashô. in: Em Tese, Belo Horizonte, v. 20 n. 2 maio-ago. 2014


Taraf De Haidouks - Balkan Gypsy Folk Music

domingo, 4 de setembro de 2016

CORDIALMENTE


A ideia falaciosa de que o brasileiro é cordial não resiste aos 50 mil homicídios por ano (Jessé Souza tratou de sepultá-la em um de seus livros recentes).
Sergio Buarque nem teria tido chance de formular a ideia se houvesse em torno dele as redes sociais de hoje, onde brasileiros expõem sua barbárie torcendo pela cegueira alheia.
O brasileiro nem é cordial, nem bárbaro, generalizações absurdas para definir qualquer povo.
Quando muito podemos falar de estados de espírito coletivos, historicamente datados, socialmente adquiridos.
Hoje, um pedaço razoável da classe média formalmente letrada transpira ódio de classe equivalente ao de um senhor de engenho.
O ódio contra os pobres, os nordestinos e as mulheres encontrou expressão na política do ressentimento: "bolsa esmola", "presidanta", "feminazi", etc.
Em tempos de crise, que ninguém ouse tirar do capital paulista as benesses do colonialismo interno.
Já o lúmpen conquistado pela direita nas manifestações de 2013 zune e urra nas redes sociais os bordões que permitem a ele se identificar com a classe a que almeja pertencer.
Ninguém muda um país profundamente hierarquizado impunemente, daí o desejo de "ordem" dos fãs da ROTA.
O combate à corrupção que os une -- classe média e lúmpen -- é pretexto para deixar de atacar o verdadeiro problema do Brasil, que os separa: a profunda desigualdade social, consequência de 300 anos de escravismo.
É uma peculiar união dos dois lados do escravismo, alimentados pela desinformação da Globo e adjacências, produzindo uma vitória sem precedentes do analfabetismo funcional. 

Luiz Carlos Azenha