terça-feira, 31 de julho de 2018


Tua ilegibilidade se tornou dunas
nas minhas mãos: jogos de espelhos, narrativas encaixadas
e um engulho nas madrugadas turvas.
Viver é dócil e assombroso ao seu lado.
Todavia, me descubro menino e ancião cansado
quando falas e vibras tuas mãos no quarto amplo demais.
Mas quando te vi perdida
me reconheci sórdido como um vilão de Alexandre Dumas.
Não te peço nada, só o perdão
pelo sacrilégio de existir num mundo que nos desconhece.
O amor não é palavra que se soletra impunemente.
Penitencio-me por ousar descobrir todos os seus sinônimos
no meu velho dicionário de impropérios.
Amo-te como um crápula, como um cervo ferido
na Floresta Negra,
como um traficante da armas na Abissínia, como um anjo.
Amo-te e quero te possuir mais a alma que o corpo.
O corpo é doido e não raro nos desengana.
Viver é dócil e assombroso ao seu lado, eu já disse.
E é este assombro que me alimenta,
hoje, às três horas
da tarde de uma quinta-feira de um mundo sem sentido.

Otto Leopoldo Winck

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